Enquanto o seu eduardo não chega


    Eis um texto amargo. Quase um desabafo e um conselho implícito.
    Eu ia votar nele. Mas perder um presidente é o de menos nisso.
    Não é um texto sobre o Eduardo. É um texto sobre perdas e aprendizagem.

A primeira pessoa que eu perdi de modo brutal foi a minha avó. Ela não teve seu corpo destroçado, só uma perna. Além de outras coisas quebradas. Mas o caixão ainda pode ficar aberto. Ela morreu na noite do dia em que meu pai quase também foi morto. Claro, todos ficaram em choque. Foi o ápice de terror em 2014 (espero que continue sendo) e eu continuo ficando cada vez mais assustada com o que esse ano pode levar de mim. Claro, ando postando que estou bem. E estou. Ou estava. Estava. Não consigo parar de pensar que mais alguém vai morrer. Não consigo parar de pensar que vou acabar só, com todos mortos. Mas já estou trabalhando nisso. Se bem que eu sou a senhorita altos e baixos.
   
Mas a vida é assim, como anunciei no post sobre isso: efêmera. Nós estamos de passagem. Podemos viver como se fôssemos de ferro, mas é assim pois queremos que assim seja. Não existe nem mesmo um destino linear. Sempre há escolhas. Como sempre digo, só não há solução para a morte. E nesse ano, muitos estão tendo os seus "Eduardo". Eu tive, antes de mim tiveram outros e virão mais. Inclusive, haviam mais seis "Eduardo" no avião.
   
É incrível como somos insensíveis. Isso acontece o tempo todo. Comigo era assim. Pois nós somos muito voltados a nós mesmos e vaidosos. Pensamos sempre que não vai acontecer. Mas o universo está pouco se fudendo para você e veja só, acontece. Todos sempre pensaram que meu avô morreria primeiro, de alguma doença... Mas não, foi a minha avó. Enquanto simplesmente atravessava a rua. E ainda é estranho saber que nunca mais a verei. Restam só as lembranças, mais nada. E resta só o eterno e constante aviso: a vida é um sopro. 
   
Mas nós só aprendemos mesmo, quando acontece com a gente. Não adianta. Ficamos até sensibilizados quando ocorre com uma pessoa pública. Ou quando a tragédia tem uma proporção enorme. Mas ninguém muda! Se fosse assim, todos no mundo saberiam aproveitar a vida. Mas não é assim que o ser humano toca a música do que é a vida. Bicho que nem nós, só aprende quando a dor nasce dentro da nossa própria vida. Quando ocorre com as nossas pessoas. 
   
Eu pensei que mudaria, quando uma amiga quase morreu num sequestro relâmpago. Mas eu só mudei mais um pouco, quando minha avó morreu. E é assim. É assim que funciona com cada um de nós. Não mudamos pela dor do outro. Mudamos pela nossa própria dor. Mas ainda assim, espero que você não tenha que esperar o seu "Eduardo" acontecer. Faça valer, sabe? A pior coisa é o arrependimento em relação com alguém que nunca mais irá voltar. E não há crença que conforte, só há o tempo.
   
O que mais nos falta hoje não é o tempo, mas o amor. O importar-se com o outro. Demonstre mais. Não é nem só pelo outro, mas por você também. Faz um bem danado. Olha, já passei por cada uma nesse ano... Você não faz ideia. Ainda assim venho aqui e sinto que deixei o melhor que pude, sabe? Quanto sabe nesse texto. hahaha Enfim... É isso. Viva uma vida do qual você não irá se arrepender se qualquer pessoa morrer amanhã, inclusive você. Pena que o orgulho ainda nos fode tanto. Pobres seres humanos "vivem como se não fossem morrer nunca, e morrem como se não tivesse vivido". E posto isso com um medo danado de morrer. De ser meu próprio "Eduardo"...

    Em momento assim, dói é para quem amava aquele que se foi.
    Cabe a cada um, se reinventar.
    A dor só vira saudade, mas ainda é uma melhora.
    Essa é a nossa única e dolorosa certeza, não é? Deveria ser mais fácil lidar com isso.
    Não é.
Ana Cruz Lua
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essas coisas demoram para cicatrizar
até o tempo se torna cruel
quando escrevi o texto, não estava bem
mas já melhorei (:

Um comentário:

  1. Ana.... não sabia que se sentia assim...
    Bem, posso te dizer que eu compreendo... venho tendo que lidar com isso desde pequena, posso dizer que a morte sempre foi minha companheira, rs... eita, essa bitch...
    Sabe, eu penso bastante nisso. Muito mesmo. Desde que eu era pequena, talvez isso tenha me ajudado a encará-la de uma outra maneira. A fiz minha companheira, sabe? Ela já estava por aqui mesmo. Não tenho medo de morrer, lógico que fico triste quando alguém próximo a mim morre, mas já consigo ver de uma maneira mais natural, mesmo aqueles se foram de uma maneira mais trágica. É estranho, talvez soe fria, mas é um ciclo que eu me forcei a aceitar.
    Assim como o fato de que nem toda dor é eterna, acredito que você já escreveu isso aqui.
    Sei que isso tudo não soa como consolo, ou talvez soe, mas espero que seu coração se acalme, respira um pouco, vá ver os filhotes no pet shop (eu fazia isso quando criança, rs), deita na grama e olha pro céu, quando eu vejo imensidões como ele e o mar, eu sempre penso que existe mais, e mais eu quero ser. Faz sentido?

    Eu não "engrandeço" aqueles que morreram e eu nem conhecia. Eu sei, eu sei, soa insensível, mas eu acho isso de tamanha hipocrisia, eu vi algumas vezes com esses olhos que um dia a terra vai comer em um velório de uma das "minhas pessoas", e eu já não sabia se sentia raiva, dó ou nojo da pessoa.... ainda não sei ao certo.
    Como diria o diabo do Auto da Compadecida: "É só morrer que todo mundo vira santo". E é verdade, temos a mania de fazer isso... principalmente com celebridades e pessoas de imagem pública, até esqueceram dos outros seis coitados no avião, num é?
    Eu sinto por aqueles que ficaram, que ficam, aqueles que lamentam, isso me dói, por isso não vou mais a velórios. Cansei, esse ano eu decidi isso...

    O pior é isso.
    É você saber que todo mundo tem prazo de validade e mesmo assim... não conseguir mudar em relação à elas... Mas a gente nunca sabe quando a pessoa vai morrer, por isso continuamos, e vamos continuar, agindo da mesma maneira.
    Talvez, não sei, isso seja melhor.
    Acredito que palavra gentis, bom gestos... vem mesmo é mesmo do coração, e não é fácil mantê-los de maneira constantes, somos seres com dois lados, o bom e o ruim, o equilíbrio é que é difícil. Não somos obrigados a amar todo mundo, mas acho que desrespeitar o próximo não é algo cabível.

    Acho que esse assunto tão profundo, Ana, complexo também... eu sempre paro de pensar bem no meio, quando a dor de cabeça começa a aparecer XD

    Espero que você melhore... eu torço pra isso (só não digo que rezo porque, bem, eu não rezo). Desejo pra tu todo amor do mundo <3

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