Vou te bater uma real: vou te dizer que não sou a tal

nível pré-sal c:

O quanto de dor a gente tem na gente, que a gente não percebe? Eu ouso dizer: mais do que podemos imaginar. Sempre tem mais dor, mágoa, rancor... do que a gente imagina. Eu passei por umas situações tensas e eu acabei fazendo umas merdas sem perceber que eu estava fazendo merda. Geralmente eu sou uma pessoa bem lúcida, que enxerga os outros, que não projeta, que não toma pra si, que toma cuidado com o que fala...

Mas quando eu entro em alguma fase que me desestabilize, eu fico cega. Eu não enxergo o outro. Pois eu tenho uma dificuldade enorme em lidar com dores. Eu me retalho mais do que eu deveria e isso acaba chegando no outro. E isso não é só comigo, a maioria de nós é assim. Tem quem saiba disso, tem quem não e tem os iluminados. hahaha E claro que nem todo mundo vai reagir de formas iguais, a gente que tem que se entender, né? É. 

Eu geralmente acabo me dando bem com quem tem compaixão com o jeito que eu sou e entende que realmente não é por mal. Entende que quando eu tô bem, eu sou ótima. E que quando eu não tô bem, eu sou louca. E eu acabo sim precisando de alguém que segure meus ombros, olhe em meus olhos e me ajude a voltar a seguir meu rumo certinho. Se a pessoa achar que faço por maldade, quando na verdade estou numa situação de cegueira e desolamento total, a coisa só piora. Pra mim e pra pessoa. Não é obrigação dela lidar com meus sufocos. Mas também não é a minha obrigação ser ótima o tempo todo, sou humana e terei meus momentos de ser louca também. Fica quem quer. Quem ama meu jeito bom de ser, tem que amar quando tudo entra em curto-circuito também, ou não é amor. Mas tem gente que não ama a gente, só gosta do que a gente faz por ela. Mas é bom que ai a gente descobre quem é quem. 


A gente é com o outro, como somos com nós mesmos. Quando eu te enxergo, é por me enxergar. Quando eu não te enxergo, é por não conseguir me enxergar. É uma cegueira tão dopante que você nem percebe que está cego. Tem algo ali tão assustador, que você não quer ver, que você nem ousa questionar. Você deixa de cuidar de você, das coisas que você gosta, arranja um outro norte pra sua vida. E vai deixando tudo passar, tudo vai passando, tudo vai virando uma bola de neve horrível e você não entende como raios aquilo está acontecendo com você. Não sabe, pois tá cego. Não vê o que deveria estar vendo. Não quer ver o quanto de dor tem ali sendo acumulado. E a dor vai acumulando, vai virando mágoa, vai virando raiva ou medo. E quando a gente resolve se dar conta, a gente leva um susto. 

Isso quando se tem a coragem de se dar conta. Pois não é fácil. Ou melhor, é fácil. É possível. Mas a gente cria essa ideia maldita que não, não é. E ai é que acaba não sendo mesmo. E nem sempre a gente tem alguém pra segurar em nossos ombros, nos olhar nos olhos e nos guiar de volta ao nosso próprio caminho. Mas depende principalmente de você. A pessoa pode querer te colocar de volta, mas você pode sequer ter percebido que saiu do seu rumo. Ou pode querer não voltar. Mas a gente volta, se der tudo certo, quando a gente tiver aprendido o que deveríamos ter aprendido com aquilo.

Eu tô saindo dum momento de cegueira e não, não é fácil. Dói? DÓI. E querem dizer que eu tô depressiva por sentir. Eu nunca vou entender essa humanidade que quer classificar tudo como doença. Me desculpem, mas pra mim, tristeza faz parte. Olhar pra dentro de você, ver a bagunça que ficou, ver o estado de abandono em que você se deixou... não é fácil. Dói sim. Eu não tô aqui pra mentir. Mas essa dor, essa mágoa, esse medo. Eu quero cuidar deles. Eles também são o que eu sou. Grande paranoia e cobrança nasce justamente de quererem que sejamos perfeitos, tem que estar feliz o tempo todo. Mas eu ainda não virei um robô não, tá? Continuo humana.


Tiveram pessoas que me deixaram mal, mas eu não falei nada para elas sobre isso. Eu não conseguia. De tanto medo. E elas me achavam controladora. Elas não viam por trás da euforia, o medo. Tudo bem. Do mesmo jeito que eu não as via, elas não me viam também. Elas acham que só eu as magoei, mas elas me magoaram muito, também. Até demais. Mas foi o que me fez voltar a lucidez. Foi o que me fez notar que eu havia me abandonado. Cuidando obsessivamente dos outros e me deixando de lado. Tentando resolver obsessivamente a vida dos outros e a minha caindo em ruínas. Tudo isso por não querer lidar com meu lado triste, assustado, feio. Só que fingir que não existe não resolve o problema. Só piora. Tentar negar, então? Nossa!

Quem é uma pessoa bem resolvida, quando me vê, não vê controle. Vê a armadura. Vê a fragilidade. Quem me enxerga como eu sou, quer me colocar no colo. Quem é bem resolvido, sabe que eu não me acho a tal. Quem é bem resolvido, me diz pra relaxar, me diz pra cuidar de mim, me diz que eu não preciso ser tão cruel comigo mesma. Eu sempre digo para os outros cuidarem de si, pois é o que eu deveria sempre fazer comigo e geralmente eu não faço. E eu sei o quanto dói se negligenciar. Por isso que acabo agindo como a doida do "por favor, cuide de você". Mas né, eu vou parar com isso. Já parei, na verdade. E eu tive que sofrer tanto, me negar tanto, fugir tanto da minha sombra para entender. Mas o que importa é isso, eu entendi.

Dentro de mim, realmente tem muita dor, muita mágoa. Mas dentro de mim, também tem muita luz, muito amor e principalmente muita vontade de tudo aquilo de sombra que ignorei, dentro do possível, trazer pra luz. A verdade é que eu sou inofensiva. Fazer mal mesmo? Só faço pra mim. Só não vê que não enxerga a si mesmo e logo, mais ninguém. Mas a vida está ai para aprendermos e eu precisava ter passado por tudo aquilo, para entender. Entender o quanto eu era negligente comigo mesma. O quanto eu fugia de mim e o que eu deveria fazer comigo eu fazia para os outros e sem nem saber se eles queriam aquilo. Mas valeu a pena. Pois eu voltei a me enxergar.

Ana Débora, com carinho e gratidão

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