O ser que trata o outro como coisa

eu precisava desabafar
e registar quando decidi deixar de ser tão trouxa

Eu sei que está na moda, atualmente, ser alguém que não se importa. Ser do tipo que não se fere com nada. Ser o indestrutível. Ser o fodão sem sentimentos. Ser ainda melhor quando se é ruim. Ser grossa e ter o coração de mocinha, dizem. Beleza. Mas sabe de uma coisa? Me poupem. Gente que trata gente como coisas descartáveis: nos poupem. Sério. Que gentinha mais chata que deixa esse planeta tão mal frequentado. Eu cansei de dar créditos para vocês. Cansei de acreditar que vocês são a única coisa que existem aí. Cansei de pensar também, por outro lado e de forma inocente, que "ah não, ela(e) não deve ser assim tão ruim...", pois sempre prefiro acreditar no ser humano. Mas a verdade? É que daqui a pouco tô eu lá: chorosa, magoada, me perguntando por qual motivo as pessoas fazem tanta merda. Sério. Tratam o outro como nada, não o respeitam. Gente que não sabe lidar com o outro e o trata como coisa, não quero mais saber de vocês em minha vida. 

Eu sou sentimental mesmo. Eu me importo mesmo. Eu me entrego mesmo. Eu sei que gente como eu é tida como frágil, como fácil de enganar. O popular besta, né? O verdadeiro trouxa. Pois então eu sou trouxa mesmo. Mas não vou mais me dobrar em várias pra suportar a pessoa que no fim "não deve ser tão ruim assim". Realmente, nada é tão preto no braco, eu sei. Continuo pensando assim.

Mas. Eu. Cansei.

Eu cansei de cada ser "bonzinho" que passou em minha vida. Não vou mais brigar, não vou mais gritar, apesar de ainda não conseguir evitar a dor em meu peito quando algo assim acontece. Sempre fico presa em querer entender. Sempre fico batendo a cabeça, o coração, os nervos em entender. Mas nem sempre tem uma explicação que cure. "Tem que deixar ir. Deixe ir. Não precisa entender". Mas eu tenho que repetir isso como um mantra, várias e várias vezes, até sarar.

É tão engraçado. Pois quando minha mãe estava na faixa dos trinta (e eu era uma criança grandinha e pré-adolescente), eu sempre dizia a ela "pare de ser assim, pare de sentir tanta dor pelo fato dos outros serem uns imbecis". E agora eu tô igual a ela. Cada coisa que me fazem, dói, mas dói tanto. Eu fico cada vez mais surpresa em como fico parecida com minha mãe, até me assusta, na verdade. Pessoas como minha mãe são maravilhosas, mas dificilmente valorizadas. Dificilmente observadas, ajudadas. E dói. Eu vejo que ser bom é tão solitário, mas hoje eu também sei: não estamos sozinhos. Eu sei que existem bons corações por aí, eu sei. Eu finalmente reconheço isso.

Podemos não ser o que o mundo procura. Podemos ser os que só são procurados quando as coisas ficam difíceis. Tem gente que só para pra pensar no nosso valor, quando cansamos e dizemos "já deu, tô de partida da sua vida", ai é reclamação, hora de dizer que você abandonou. Sério? Quem abandonou quem primeiro? É uma comédia. Você é gentil, bom, atencioso. Ai é tratado como algo tão relevante. Mas quando resolve ir, pois cansou, a pessoa sente sua falta. 

É isso, eu cansei de ser boa com quem eu sinto que não merece. Quando apenas um doa, se importa, é hora de ir embora. Finalmente eu entendi. Eu realmente queria ter esse nível espiritual de não levar tudo pro lado pessoal, mas cansei. Não consigo, pois me machuca. Ainda levo pro pessoal. Eu penso tanto no outro que não consigo levar a sério alguém que não faça o mesmo. Cada um oferece o que pode, eu sei. E respeito isso. Mas devo me respeitar também. E o meu limite agora, é no mínimo pessoas que sabem tratar pessoas como gente e não como coisa. E que se importam. E que se entregam.

Só me interessa agora, os bons corações. Não vou mais tentar florescer em solos inférteis, é perda de amor e tempo.

Ana Débora, com carinho e gratidão
em breve volta a programação normal c:

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