O plano


    A casa está serena essa tarde, o sol chegou e ficou de mansinho aquecendo o piso de madeira. As cortinas dançam junto com a brisa leve que areja a casa enquanto arrumo o meu cabelo castanho com cuidado para que os cachos não se desfaçam. Lembro do semblante dela enquanto me olho no espelho. Sempre fomos tão parecidas.
    Mas… Pessoas se vão. Mesmo que sejamos demasiadamente apegadas a elas, mesmo que sejamos como siameses. Pessoas simplesmente se vão. Essa é a maior dor de ser corruptível por milhares de motivos. Procurei a fita roxa que ela havia me dado de presente em meu décimo sétimo aniversário e a passei pela minha cabeça e a amarrei em cima dando um laço. Um laço tão bonito que continua a durar, mesmo com almas em planos distintos. Um laço perfeito e inquebrável por ser tão maleável, adaptável e sincero. Eu lacei o laço da fita como o nosso laço: eterno, cheio de amor, infinito.
    Algumas vezes a sinto tão perto de mim, que é como se ela sussurrasse em meus ouvidos. Sinto e ouço isso exatamente agora, ela me diz que o infinito mora em nós. A sinto do meu lado e fecho os meus olhos para perdurar a sensação, bem aqui, em meu peito. Pois a verdade é que eu sinto falta dela o tempo todo. Sinto falta de quando ela me seguia, sinto falta de quando me falava os seus medos, sinto falta de quando eu fazia falta para alguém, sinto falta de não ter com quem me lançar aos precipícios. Mas ainda a sinto aqui, no meu peito pequeno de não mais menina moça.
    A sinto em cada toque que dou, a sinto pela casa, nas louças caras que comprou, nos vestidos floridos e nas cores de tons claros, fracos. A sinto no cheiro de brigadeiro, nas músicas melancólicas, nos pássaros, no riso. A sinto na inocência, no acreditar, no despertar, no tentar. Certas pessoas não se vão, elas dão um tempo, sabe? Elas só perdem a forma, mas elas continuam presentes. Você continua a compartilhar tudo com elas: você conversa com elas, você continua a deixar flores (mesmo que seja no túmulo) e você ainda ora por elas.
    Você as prende no peito mas as deixa voar, já que elas estão dando um tempo. E ela está dando um tempo, como um dia eu também darei. Realmente quero acreditar que existe esse outro plano, pois o nosso laço não se quebrará nunca. E eu sinto que de alguma forma, ainda iremos nos encontrar. O plano que hoje separa, amanhã nos unirá. Eu sei.

Ana Débora
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quando o amor e a saudade se tornam um só
é perigoso...

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