Sou feita por inteiro de sentimentos


Sei que tem gente mais sensível que eu por aí e sinceramente, não sei como elas conseguem. Geralmente acabam na área artística, aonde podem derramar e viver tantos sentimentos. Fora disso é suicídio. Eu sei que é. E talvez até dentro da arte, elas não consigam suportar. Ser feito de sentimentos é uma dor agridoce, que só quem é, sabe explicar. A gente se reconhece de longe. A gente sabe pelo olhar que ali tem um amor imenso, mas misturado com uma dor também imensa. É uma existência dolorosa.

Eu sei que eu não deveria ser tão sentimental. Já me disseram que eu não tenho que misturar as coisas. Mas o que fazer quando se é assim? Quando se nasce assim? Eu sou feita inteira de sentimentos, não tem como eu isolar isso quando é tudo o que eu sou. Eu não sei separar as coisas, pois pra mim, nunca estiveram separadas. Se eu estou bem, estou bem e faço tudo. Se eu não estou bem, eu não estou bem e não faço nada. Eu não sei separar. E não é por falta de esforço. 

Se me ver nua, vai perceber que nua, sentimento é tudo o que eu tenho. Eu tenho toda essa confusão interna para oferecer. Eu tenho os questionamentos mais íntimos para se fazer. Eu não quero saber a sua posição favorita na hora de fuder. Eu quero saber que doce você implorava para comer quando era criança. Eu quero saber o que faz o seu coração bater com força dentro da caixa torácica. Eu quero saber o que te faz querer ir mais além e mandar o resto explodir na puta que não nos pariu. Eu quero saber o que te faz continuar quando mais nada parece fazer sentido. Eu quero a sua explicação sincera sobre o que é Deus pra você. Mas geralmente meus questionamentos acabam virando piada em bocas alheias, eles nem respondem. Eles riem e me acham ridícula. Não me levam a sério. Mas tudo bem, eu sei que a maioria das pessoas não são feitas por inteiro de sentimento como eu. Somos escassos.

Ser inteira de sentimentos, não é aquele que chora num filme triste ou que esbraveja raiva com uma injustiça. Não. Ser inteiramente sentimento, é deixar que o filme e a  injustiça façam parte de você e te modifique. É ver um documentário sobre estupro e ficar enrijecido, amargurado, guardar aquela dor em si como se aquela menina fosse sua filha, sua irmã, como se ela fosse você. Ao assistir um filme, é sentir junto com cada personagem. Como se no primeiro beijo deles, fosse o seu primeiro beijo. Como se a primeira briga deles, fosse a sua primeira briga. É prestar atenção na letra de uma música e então subitamente, entristecer. Ou sentir a brisa suave ou a melodia dos pássaros e sentir uma imensa gratidão por estar viva, ao ponto de lágrimas brotarem de forma impossível de se segurar.

Num mundo veloz, de aparências, revestido de mentiras... não é fácil ser feita por inteiro de sentimentos. Mas é agridoce. É o que nos torna mágicos, é o que nos torna frágeis. Sentimos a enfermidade em cada poro, mas sentimos a vida também. A brisa é sentida com mais facilidade, mas tornados não nos assustam. A água rasa nos acalma, mas vemos nosso reflexo refletido é na revolta das águas. Sentimos a alegria em cada canto. Tudo nos alegra. Tudo nos dói. Uma maldade nos mata, mas um sorriso nos salva.

Sentimento do topo da cabeça ao fundo dos pés. Não dá pra separar, quando é tudo que eu sou. Inteiramente e completamente sentimentos. Meu dom e minha sina.

Ana Débora, com carinho e gratidão
um dia eu paro de misturar as pessoas num texto só

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