O preço de viver de peito aberto


Ps.: Já tem um tempo que escrevi esse texto, mas ainda é tão válido e finalmente criei coragem pra postar. A gente realmente se acostuma a viver de peito aberto, é possível. A história que relato se passou quando eu estava no ensino médio, mas principalmente no segundo ano (2011) e devo ter escrito esse texto no início da faculdade (2014). Mas só criei coragem pra postar em 2016.

x

Estamos em um mundo onde ser gentil é ruim. Onde amar, é perda de tempo. Onde se importar, é ser trouxa. Onde olhar o outro é prejudicial. Onde a maioria das pessoas dizem que o mundo anda terrível, que ninguém presta (inclusive elas mesmas). Né? Mas não é o mundo que determina o seu modo de ser. O mundo pode não ser exatamente uma colônia de férias (e não é mesmo), mas o que determina a sua essência, é você. Isso é apenas mais umas das minhas histórias que resolvi contar. 

Na época do tumblr, havia especialmente uma moça para quem eu conduzia os meus encantos. Havia dor nas palavras dela, mas era uma dor diferente da minha. A minha dor era sofrida, reclamada, não aceita. A dor dela era suave, passageira, aceita. A minha dor era como um chumbo. A dor dela era como uma brisa. 

Uma vez perguntaram a ela se ela não tinha medo da dor e ela disse que já estava velha demais pra ter medo de cair, pra ter medo da dor. Algo assim. Eu nunca me senti tão miúda diante de uma resposta, pois eu ainda era minúscula demais para aceitar alguma coisa contrária a minha vontade. Isso foi em meados de 2011. A forma como ela aceitava as coisas, me fez questionar o motivo de eu não conseguir. 

Foi também ela, que me ensinou sobre "as pessoas enxergam nos outros o que elas tem nelas mesmas". As pessoas sempre iam até ela e a diziam "você é linda/incrível" e ela dizia "são os seus olhos". Eu fui uma dessas pessoas. Mas nossa, demorei horrores para entender aquilo. Mas um dia, um abençoado dia, eu entendi. Eu a entendo inteiramente, hoje. Ao menos o que fui incapaz de compreender no passado. Ela me perturbava de tal maneira em seu modo de ser, que acabei escrevendo vários textos afetados sobre o que ela me causava. Um desses textos eu escrevi "que tipo de óculos você usa para enxergar a realidade assim?", algo desse tipo, pois pra mim, naquela época, a realidade era impossível de ser vista como algo belo. Pra mim, ela era bela e ao mesmo tempo uma calúnia. Mas ela pisava em meu calo, não por ela ser ela. Mas por eu ser eu. 

Esse post nem era pra ser sobre ela. Mas sobre alguém que hoje é tão covarde como eu já fui. Alguém que se faz de forte para o mundo inteiro mas quanto a si mesmo? Está acuado, assustado, nas sombras. Por isso que enxergamos nos outros o que temos em nós mesmos. Quando eu via o tumblr dela, acabava encarando a minha própria falha em não saber lidar com a dor. Hoje, eu vejo as falhas de alguém, me chateio (não vou mentir), mas compreendo. Não cabe a mim julgar. Não devo me irritar, pelo contrário. Devo ficar em paz e desejar a paz. E pedir por sabedoria, pois irei precisar. Pois não guardo aquela raiva, mas no momento em que ocorre, fico bolada. E sabedoria peço, para saber por qual motivo aquilo me incomodou. Incomodou alguma ferida minha? Aquilo é algo que reprimo em mim? É importante diferenciar o que nos incomoda por problemas nossos e o que realmente nos incomoda no outro e é melhor ficar afastado da mesma.

Ela me ensinou sobre viver de peito aberto. As palavras delas são... não sei explicar. Tem algo de diferente, sabe? Eu a admiro até hoje. Ela me ensinou muita coisa sem pretensão alguma de ensinar algo. O que acontece, é que havia nela (e muito) coisas que não havia em mim. Assim como haviam e por isso a identificação. Mas a diferença era na forma de lidar com o que tínhamos em comum: a dor. Então a olho e vejo o que poderia mudar em mim. Ou, ver algo que não devo acrescentar a minha vida. Não dizem que é isso ser sábio? Aprender com o erro dos outros? E olha só, com os acertos também!


Viver de peito aberto. Foram os  textos dela que me ensinaram isso. Viver de peito aberto é ser livre, é saber que não há nada de errado na falha, no erro, na dor. Mas que também não há sentido em não tentar melhorar. Pois o mundo pode ser frio, sujo, assustador. Mas ele ainda é belo, ele renasce, aquece, acolhe. Viver de peito aberto é se permitir viver. Trancar o peito não é vida!!! Eu ainda não sou a pessoa mais corajosa do mundo, mas finalmente (sim, finalmente) eu posso dizer que não sou covarde. Ao menos isso. 

Não sei aonde essa jornada vai me levar. Eu já tentei outras vezes e desisti no meio do caminho. Na maior parte das vezes, por ser doloroso não receber de volta metade da sinceridade que se dá. Mas eu estou a caminho de entender que cada uma das pessoas tem o seu tempo e que algumas, nunca sequer irão descobrir que o tem. Paciência. Viver de peito aberto dói, mas vale a dor sentida. Melhor um homem inteiro vivo do que um zumbi pela metade morto. Antes de escrever este último parágrafo, dei um pulo no tumblr dela. É diferente. Ela é daquelas pessoas que você sabe que de alguma forma não é como as outras. Há algo a mais. Talvez, por ela já viver a tanto tempo de peito aperto e ainda assim fazer da sua prosa, uma verdadeira poesia, um verdadeiro mar poético. Ver a beleza no caos, é para poucos. Sentir a delícia da dor então? Preciso nem comentar. 

O preço é viver leve. Verdadeiramente feliz. Mesmo que seja uma realidade meio inventada. Ou completamente enfeitada. Tô iniciando isso de viver de peito aberto e não abro mais mão.

Ana Débora, com carinho e gratidão
como é bom não ter medo do que nos fragiliza

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e obrigada por comentar.
Comenta com carinho. *3* hahaha