Corações de gelo também sentem (e sobre escrever)


    Acho que você realmente levava como um desafio fazer ou dizer algo que me irritasse. E só nós dois entendíamos o motivo daquilo, mas fingíamos tão bem que não sabíamos de nada. Enquanto as coisas mudavam aos poucos ao nosso redor. Enquanto nos encarávamos e tudo parecia estar bem. Mas... Enquanto você sorria:
    -Ah, viu só! Consegui te irritar!
    Eu ficava magoada e vencida do outro lado, observando calada e ressentida a sua tal alegria de conseguir pisar em um calo meu que parecia até então ser inexistente. Mania irritante você tinha de querer e conseguir achar as minhas fraquezas. Os meus medos. As minhas falhas. Enquanto eu, lamentava:
    - Feliz agora? Idiota!
    E vivíamos em uma sintonizada birra. Uma guerra fria, não declarada. O mais irônico de tudo era que você dizia gostar da Coréia do Norte, enquanto eu era uma assumida apaixonada pela Coréia do Sul. E agora toda vez que o país que você vivia passando em minha cara que gostava passa em algum noticiário eu me lembro de você. E fico pensando no que você deve estar achando de tudo isso. E sinto mais vontade ainda de te chamar mais uma vez em alto e bom som de idiota. Queria poder soletrar: 
    - I-D-I-O-T-A!
    Mas soletro aos ventos. Pois ainda me lembro no dia em que você realmente deixou claro que me conhecia. Naquele dia que não parecia tão diferente dos outros. O mesmo calor e tédio de sempre. Até que mais uma vez nos encaramos, viu, nada fora do normal. Até que os teus lábios se abriram e tão sabiamente disseram, como eu já previa:
    - Você tem um coração de gelo. Poderia de fato amar alguém?
    Eu queria poder nesse dia ter te chamado de idiota e ter explodido. Afinal de contas eu era uma granada, e agora, você tinha arrancado de mim o pino. Mas não fiz nada. Só disfarcei a tristeza com o meu velho e clichê sorriso de canto e  apenas disse uma coisa ou outra sobre as suas palavras terem me magoado. Mas apenas nós dois sabíamos o que aquele momento significava. Então só fiz dizer:
    - Poxa... Coração de gelo? Assim você me magoa. 
    Como se eu não vivesse fazendo isso com você. Que me via nua. Que me via além de tantas personalidades novas e velhas, que me via além dos olhos das e máscaras. E mesmo sabendo que existia algo ali, saberíamos que dificilmente algo haveria de ocorrer. Mas você saberia que por trás de um coração de gelo havia também ansiedade para alguém de coração tão quente quanto o seu derreter algo tão frio e infértil quanto o meu coração?
    O problema é que você não sabia que quem tem coração de gelo também sente. Talvez você não soubesse disso. É no que eu quero acreditar. Ou... Não sei. Mas talvez as coisas fossem diferentes se você fosse mais otimista. Ou será que não? Mas eu gostaria de acreditar que pessoas de coração de gelo sentem... Mesmo que seja apenas o desgosto de não sentir. Pois eu sou uma das portadoras desse tipo de coração.

Ana Débora

(simplesmente amo essa música e sou a contradição em pessoa)


    Pode soar estranho, mas eu me sinto na obrigação de escrever. Quando eu não escrevo, há algo errado. Há algo sufocado. Há algo morrendo dentro de mim. Há confusão. Eu não sei não escrever sobre o que eu sinto ou o que eu quis inventar. Escrever cartas não é suficiente, pois é uma obrigação com o projeto, não comigo mesma. Eu preciso escrever por mim, sempre foi assim, desde o início. Pode ser para me distrair ou para não explodir. Só morre sufocado com o que não disse, aquele que não cuspiu as palavras em um outro amontoado de palavras. E é apenas por isso que eu sobrevivo, pois eu sou composta de palavras sufocadas.
    Não muito raramente me sinto sufocada sem motivo nenhum aparente. Mas são as palavras, os sentimentos e os momentos não vividos. E por céus... Que saudade que eu estava de postar algo em rascunhos. A saudade é tamanha é que eu estou escrevendo isso diretamente na página em branco de um futuros posts do blogger. Eu fiquei com tanta saudade que criei um tumblr para postar todos os meus textos. Eu sempre os leio, sempre. Gosto de ver o quanto eu mudei e gosto de me assustar um pouco com o fato de não me recordar direito como eu era dois anos atrás. Pois eu já não sei mais como era. E droga, perdi o foco. Mas escrever é isso, transbordar. Bem, pelo menos para mim é isso. Escrever é não sufocar.

Ana Débora
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Vou voltar com o desafio das cartas em breve, 
e com os rascunhos também. 
Necessito.

2 comentários:

  1. O texto me envolveu do começo ao fim. "O problema é que você não sabia que quem tem coração de gelo também sente". E, talvez, sinta mais que os outros: porque gelo derrete. E derrete fácil.

    O mais engraçado, é que me identifiquei tipo, MUITO, com aquele o parágrafo de explicação que você deixou no final. É que eu também tenho essa necessidade louca de escrever - não por obrigação, mas sei lá, por vontade mesmo. Se não escrevo, é quase como se eu tivesse passado um dia sem me alimentar, ou alguma coisa assim. É, sou estranha, kkk. Enfim, continue com os posts perfeitos :)

    Beijos ♥ Jeito Único

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  2. Adorei o texto!Acho que você realmente levava como um desafio fazer ou dizer algo que me irritasse. E só nós dois entendíamos o motivo daquilo, mas fingíamos tão bem que não sabíamos de nada. Enquanto as coisas mudavam aos poucos ao nosso redor. Adorei essa parte *u*
    segue lá para ajudar?
    http://eternityclouds.blogspot.com.br/

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