Destinatário: Ana do ano 2006

- desafio dos 12 -

Essa carta deve ser aberta no dia 30/11/2006. Talvez você se sinta meio Sofia¹. Lembra que queria receber algumas cartas maravilhosas que a tirassem da apática realidade?

Eu queria poder ter me protegido de algumas coisas, queria poder ter me dito outras, mas depois de certas experiências, percebemos que a dor é inevitável² e não existe escolha certa ou errada. Você adora um dilema, mas eu te digo: não existe isso de certo e errado. Não nessa perspectiva tão preto no branco que você tem agora. E como diz Clarice Falcão, uma cantora daqui do futuro, se não fossem os erros, as dores, ela não seria ela. Logo, você não seria eu. 

Não te digo para viver evitando a dor, ela sempre chega. E você vai fazer muito isso, mas não é um bom caminho. Mas é que está tudo bem, sabe? Doer. Faz parte. Não precisa sofrer tanto achar uma solução para não sofrer. Tentar evitar algo tão natural, só causa ainda mais sofrimento. E a dor não é opcional, mas o sofrimento sim, ele é. Depois de aprender certas coisas e amadurecer ao ponto de perceber que ter medo da dor é algo banal, você passa a encarar a vida com outros olhos. Até lá, você vai sofrer um bocado, mas no fim, você sempre aprende. É o que importa. Mas bem que seria sábio aprender isso mais rápido. Se quiser, tenta isso.

Não existem escolhas certas ou erradas, contando que não machuque alguém. Você sempre teve essa ideia e vai manter ela, ao menos até aqui. E você não é boba por ser assim, você é boa! E quando deixar de sentir medo, perceberá que não trair o que você é, é a melhor escolha. Pois ela respeita quem você é. Mesmo que as pessoas te achem fácil de ser pisada. Mesmo que por muito tempo você tenha achado que no mundo ou você pisa ou você será pisado, não é bem assim. Mas toda a dor e sombra pela qual você irá passar (e vai passar mesmo), apenas te farão mais forte, mais solidária, mas também mais justa. Mas já te adianto: você vai passar por essa escuridão, você vai vencer, você não desiste de uma luta. Então não tenha medo.

Também será de grande valia se você conseguir não ter tanta raiva e mágoa das pessoas. Eu sei que o jeito que as pessoas agem não é algo fácil para você digerir, que isso vai te enfiar numa dor terrível, que você vai se isolar de todos e vai passar por momentos complicadíssimos, para no fim, descobrir que a maioria das pessoas só estão assustadas e que não sabem o que fazem. Que nem você. Que no fim, somos todos tão iguais! Que temos felicidades e tristezas tão similares. Lembre que você está no comando da sua vida, das suas emoções.

Você terá tropeços, mais fins do que inícios, divagações, crises de choro e de riso, mas vai ser tudo para que você se encontre, para que você se conheça, para que você firme o seu coração e trilhe o seu caminho. Você vai dar fim em muitas coisas, algumas das quais você não irá ter tanto orgulho assim, mas faz parte, tudo bem, não se culpe. Outra coisa para aprender o quanto antes: não se culpe. Se perdoe. Pode já começar a exercitar isso, se quiser. Não tenha medo do que você escreve, você o faz bem. Não tenha medo de fazer o que você quer, o coração nunca se engana.

Sua jornada é solitária, mas não quer dizer que não haverão pessoas maravilhosas a te acompanhar. Serão poucas, mas serão verdadeiras luzes em sua vida e que vão te iluminar quando estiver tão perdida no escuro. Que vão te estender a mão, o abraço, o coração. Vão te ajudar a sarar. Seja algo que se vê, que não se vê, seja humano ou animal, seja uma série, uma frase, uma autora... Outra coisa, escute suas duas amigas e sua mãe que te pedem para ser mais positiva, sério. Vai te ajudar muito quando você resolver ser assim, não precisa começar querendo ser assim, querendo aceitar. Comece curiosa, desdenhando e vá degustando a sensação, quando você se der contar, já vai ser tarde demais para voltar a ser negativa.

Lembre que como a pessoa te trata, no geral, não tem haver com você. Você vai conhecer pessoas não tão boas no caminho, ou talvez nem sejam pessoas ruins, mas não irão te fazer bem. Haverão traições, doenças, mortes. Mas também haverão nascimentos, curas e apoios que não cedem nunca. Não espere tanto dos outros, foque em você.

Eu quero te dizer o que você já sabe: vai passar. Você pode ter sentimentos ruins grudados no coro, que não saem, mas também tem algo grudado em você: essa vontade de viver, de vencer, de sentir que mantem seu coração no lugar. E você vai conseguir, com seus tropeços, mas você vai. Vai doer, mas você saberá transformar as dores em flores. Saiba apenas disso: você vai superar. E no fim, vão ficar apenas as coisas boas. No fim, você nunca deixa de crer no melhor da vida, de você e das pessoas.

E quer saber? Agora eu estou um tanto mais curiosa com o futuro e ainda mais entusiasmada com o presente! Basta fazer isso: viver. E já é algo bem grandioso de se desejar nesses tempos tão difíceis para os sonhadores, como disse a sábia Amélie Poulain (também do futuro).

xxx

Dessa vez resolvi deixar as observações para depois, decidi fazer a carta sem relacionar com a primeira que eu fiz. Não diretamente. Fiz uma carta mais curta e leve, bem mais superficial, pois depois de tantas dores que passei (até registrei no blog, não tão secamente, mas postei sobre), eu percebi que não tem aviso que nos salve. Não é uma visão pessimista, mas a visão de como a vida é mesmo. Adoro a ideia da carta, mas é o que sinto sobre isso no momento. A carta me ajuda bem mais agora, quando dá uma caída, eu sempre releio coisas que escrevi e então sinto o quando cresci e o quanto valeu a pena. Gosto dessa proposta pois ela fala mais sobre você atualmente e tudo que você viveu do que o seu "eu do passado". Recomendo a todos que o façam, é uma boa experiência! E a primeira carta que escrevi, ainda é a minha favorita. hahaha

¹ Do livro "O Mundo de Sofia".
² Dos filmes Sr. Ninguém e Sobre o Tempo.
³ Esse número não está no texto, mas é que nele eu fiz referências diversas vezes a coisas que eu mesma escrevi, algumas estão no blog e outras nunca foram e provavelmente nunca serão publicadas, tem sentimentos tóxicos demais nela (tristeza), ficou um texto bem mais pessoal e metafórico do que o primeiro, que foi mais expositivo e visível, esse foi algo que habita mais em meu inconsciente e não coloquei tudo, por motivos meio óbvios.

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Ana Débora, com carinho e gratidão
Beijos de luz e obrigada por ter lido até aqui!

2 comentários:

  1. Uau.
    Ana, você me prendeu do começo ao fim. Antes de começar a ler, eu dei uma passada no texto e pensei algo do tipo "Nossa, ficou grande!", mas quando comecei a ler, cheguei no final e pensei "Nossa, já acabou!" hahahaha Juro pra você que foi bem assim. hahaha
    Achei sua carta sensacional! Fiquei com vontade de escrever a minha de novo. hahaha Primeiro que você citou coisas que eu AMO de paixão: O mundo de Sofia, Clarice Falcão e Amèlie Poulain! Segundo que eu achei super interessante você focar na questão da dor. Eu no passado, costumava sofrer muito pelas coisas. É engraçado como a gente amadurece e algumas coisas passam a doer menos, embora na época parecesse insuportável. É aquele lance que você falou do "vai passar". Em algum momento, diminui.
    Eu realmente gostei muito!
    Ansiosa para sua carta do mês que vem. <3
    Beijos!

    http://perolairregulaar.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Own, isso me deixa feliz! hahaha Eu trabalhei por dias naquela carta, fico feliz que tenha gostado. Pois por um tempo quase pensei em tirar ela do blog (me sentia muito exposta com ela, hoje não mais), mas ainda bem que deixei. <3
      Eu acredito que colocamos o que sentimos naquele momento, em que escrevemos a carta. A diferença entre as duas que escrevi, por exemplo, é gritante! hahaha
      É. Eu tenho essa relação com a dor, ai seria tão impossível não escrever sobre isso... Os pontos que mais frisamos, no fim, são os que mais nos transformaram no que somos hoje, né? Já estou começando a viajar aqui... lol
      Fico contente que tenha gostado! Li seu comentário hoje e fiquei realmente contente!
      Beijo de luz. Obrigada pelas palavras lindas! ^-^

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