Primeiras Alegrias
23 de outubro
(Domingo)
Observação: troquei o título pelo subtítulo e vice-versa.
Foto: GuiMoura
Hoje é uma sexta-feira ensolarada, o calor faz o suor escorrer até pelos ossos. O rosto já oleoso e a ansiedade lhe causando mau estar por ele se fazer ausente. Teria ele caído doente?
- Teria eu caído na tentação da loucura! Estou louca, só pode! Ora essa...
Sentou na cama e bufou, os sinos soaram a melodia pelo vento que as acariciou. Uma fresca boa entrou no quarto, mas logo se foi. O verão a esquentava a pele, mas ela queria que aquecida fosse é a sua alma, aquecida pelo menino de olhos árvore e constelação, queria sentir aquele olhar acabar com as sensações ruins dentro dela novamente. Ele seria a cura, não? Ela era Julieta, pudera ele ser o Romeu? Por que não? Por que sim?
- Ah Deus! Cale estes meus pensamentos insanos!
Deitou-se por fim na cama, fixou o olhar na porta. Lembrou que haveria uma festa logo à noite, poderia ir para não acabar de fato lelé da cuca. Mas com o que iria? Feito bailarina ou feito a garota do rock and roll? Bufou de novo, como se aquilo fosse a esvaziar de alguma forma. Quase chorou, mas era birra. Era o querer e não ter que a enlouquecia. De tímida quase se viu selvagem por ele. Quase que o agarrou com os dentes para que não escapasse pelas espreitas, pelas beiradas, pelas brechas, pela boca, até mesmo pelo coração!
- Vou tomar um banho.
Mas que asneira foi fazer, ir ao banho significa mais reflexões a serem feitas. A cabeça esquentava mas a água fria a esfriava, estava a se deliciar com a quase loucura que a consumia desde sempre. Lembrou da tarde em que saiu com a melhor amiga escondida com o carro do seu avô, onde sentiu o vento ameaçar a sua face tristonha a sorrir, e a secar os olhos molhados. Lembrou do abraço caloroso da mãe, que fazia o gelo do seu coração virarem lágrimas, que viravam cachoeiras com a queda do olho ao rosto.
Desligou o chuveiro. Suspirou e relaxou. Abriu os olhos. Suspirou e passou a mão pelos cabelos. Sorriu. Abriu o box e saiu.
Enrolou-se com a toalha e foi para o quarto. Já voltava a sentir calor, como é duro o verão. Deu uma vontade imensa pelo local que habitava de deitar-se na cama e esperar a alma adoecer de solidão novamente, mas desistiu. Iria sair de casa hoje.
- Tenho que parar com isso, tenho que sair!
Quase que se estapeou, que chorou, mas apenas corou ao se ver no espelho. Estava pálida e cheia de pessimismo. Estava cheia? Não, entupida. Chegava a transbordar.
- Realmente já estou no estágio doentio.
Fechou as janelas. Cobriu-as com as cortinas. Despiu o corpo e procurou sem pensar em muita coisa. Vestiu-se. Penteou-se. Calçou-se.
Desceu as escadas devagar enquanto o pai espiava com o canto de olho, fazia dias que não via os olhos castanhos da filha, a bochecha rosada e os fios louros.
- Sim, estou viva.
O homem simplesmente sorriu e voltou ao ler o jornal enquanto vez ou outra deliciava-se com o café feito impecavelmente pela esposa.
- Estou saindo mãe.
- Certo minha querida, vá com cuidado.
- Devagar e sempre.
•••
Fechou a porta atrás de si e de repente viu em sua frente o mundo, o ar, as árvores, os pássaros, o gramado, o sol, as nuvens, as crianças, os idosos, os adultos, os jovens, as incertezas, a dor, o amor, o...
- Oi? - abriu o olho esquerdo devagar, era ele. Gargalhou baixinho com os dois olhos fechados, se espreguiçou e depois sorriu voltando-se para ele, que permanecia com os olhos encantadores fixados nela, a observando com cuidado.
- Oi! Bom dia. Tá afim de passear? - comentou já indo em frente a ele, dando alguns passos lentos e curtos.
- Claro... O dia está bonito, não é?
- Sim... A natureza consegue nos convencer da beleza dela com tanto esforço. Mesmo que a pisemos ela continua a se esforçar. Não é lindo? Pena que ela não é de revidar tanto...
- Uau! Estou realmente surpreso. Você é assim o tempo todo? - disse colocando as mãos nos bolsos, encabulado.
- Sim... Isso é um incômodo para você? Um tipo de tormento? - ela parou, procurando os olhos mas estava cabisbaixo, caminhava olhando para os pés doloridos agora.
- Não... Só deve ser difícil para você, para mim? Apenas soa bonito e... doloroso.
- Ah! - assustou-se e foi tocada no seu íntimo, ninguém nunca havia desvendado ela de forma tão simples e prática, quase como se ela estivesse com um manual de instruções colado na testa para ele ler, mas o silêncio predominou, ouvia-se apenas os passos e o barulho das ondas enquanto se aproximavam cada vez mais da praia, enquanto os cabelos misturavam-se ao vento.
- Eu ainda não sei o seu nome... - disse olhando a garota agora aturdida, desorientada.
- Sou a garota que se perdeu no próprio desespero, mas minha mãe ao invés de bater na porta do meu quarto ela chama por uma Mariana, e eu atendo. Então deve ser assim que me chamo, Mariana. E você, bailarino?
- Pedro.
- Hm... Pedro. Gostei.
- Gostou?
- É!
- E o parque vai ter apresentações de bandas hoje, você vai?
- Ah sim, eu estava querendo ir. Só que a minha amiga não vai, então eu não sei...
- Que ir comigo?
- Sério? Irei adorar!
- Tudo bem. Passo aqui às sete. Tudo bem?
- Estarei te esperando!
- Então até mais tarde Pedro!
- Até Mar!
Ela entrou em casa atônita. Havia acabado de conhecer o garoto a quem tanto achava misterioso. Era lindo, calmo e respeitável! Não poderia ser melhor. E ainda a convidou para ir no show. Claro que como amigos, afinal, nem ela mesmo sentia algo a mais por ele, a não ser curiosidade. Vontade de ter por perto, de conhecer. E mal ela sabia o quanto isso ainda renderia.
Foi correndo para o quarto tomar um banho e colocar uma roupa. Colocou uma calça skinny preta, uma sapatilha de veludo vermelha, um sinto de tachas com uma blusa preta simples, sem detalhes. Colocou um batom vermelho, prendeu a franja acima da cabeça e saiu.
•••
- Nossa, não é com a sua melhor amiga que você vai. Não mesmo! - a mãe aproximou-se dela, analisando cada detalhe. Ela estava maquiada, com a roupa arrumada e o nervosismo evidente, era óbvio! - Eu te dei essa sapatilha ano passado, e a primeira vez que usa! É o bailarino? Então ele não é gay? - a mãe só faltou sair gritando. O seu pai a olhava de modo sério, que climão!
- Que bailarino? - ele que quase nunca baixava o jornal, baixou. Descruzou as pernas e ia se levantar. Era o fim!
- Mão... Pai... Ah! - sentou o pai novamente na poltrona e foi até a porta - Estou indo, vejo vocês mais tarde. Ok? Mãe, olhe o que fala! Vai no meu quarto mais tarde e te conto. Até logo.
Ela saiu com o coração nos lábios e quando fechou a porta e se virou ele já estava lá. Com o sorriso mais lindo já visto em todas as galáxias.
- Eu... Pretendia conhecer os seus pais - era realmente respeitoso. Mas não estamos no século vinte.
- Melhor não... Ou seu objetivo não sou eu? - era birrenta. Como ele queria conhecer os pais dela se sequer conhecia ela? Ele poderia odiá-la no futuro! Ou melhor, depois da festa...
- Oh... - ele ficou surpreso e ela percebeu a sua imprudência com as palavras.
- Desculpa, eu não seguro a minha língua mesmo! - disse cobrindo um pouco do rosto com as mãos.
- Tudo bem, Melissa. Meu objetivo é você... - a encarou, possuía olhos firmes mesmo que temerosos. Ela por ser frágil, havia olhos dispersos. Ela desviou olhar, estava terrivelmente ruborizada.
- Não me odeia agora?
- Como te odiaria? Por ser sincera?
- Fui um pouco grossa...
- Deixa pra lá. Vamos ao que interessa - ele ofereceu a ela o braço e foram até a praça. Era um evento dos eventos que mais movimentavam a pequena cidade e que atraia muitos turistas. Mas daquela vez não importava quem vinha de fora... Ela tinha olhos para um ser só.
- Depois do show, gostaria de ir a praia para vermos as estrelas?
- Adoraria!
•••
Passearam por horas... Ele comprou para os dois uma maçã do amor. Ele comia naturalmente, sem mudar muito a expressão. Já ela, ficava cada vez mais vermelha. Não conseguia encará-lo. Antes ele fugia, agora era ela. Ele o encarava, cada detalhe. Mas como não iria se ela já o havia forçado, de certo modo, a assumir o que pretendia com ela?
- Quer ver as estrelas agora?
- Claro! Até por que depois dos shows, da maçã e tanto contato social com os vizinhos, preciso de solidão e natureza.
- E eu?
- Com você, idiota.
- Não fala assim, me magoa!
- É?
- Brincadeira.
- Me assustou!
- Agora vamos logo - a pegou pelo braço e foram andando.
A praça principal, onde ocorreu o show, não era muito longe da praia. Algumas ruas e estariam com os pés na areia. Assim o foi. Não haviam se passado nem dez minutos. Já eram nove e meia da noite mas ainda assim podiam andar livremente pelas ruas.
- Adorei o seu convite. Eu realmente amo o barulho do mar, a areia em meus pés... E a noite?
- É mágico.
- Sim, é... - o tempo poderia parar ao olhar para quem nos coloca estrela nos olhos? Para eles, a resposta era sim.
- Vamos nos deitar aqui?
- Sim, parece bom.
- Sendo garota, não se importa com o cabelo?
- Bobagem é não deitar aqui. Cabelo se lava... Concorda?
- Estou encantado.
- Eu também... - deitaram um do lado do outro, colados.
Ainda era estranho. Eles não se conheciam, mas é como se tudo fosse se encaixar. Que tipo de bom pressentimento seria esse? Continuaram vendo as estrelas, mal viram a hora passar. Duas horas se passaram desde que haviam chegado, era a hora de partir...
- Tenho que te levar para casa.
- Ah, mas já?
- Hm... Birrenta.
- Lindo, fofo!
- Fofo? Eu?
- Sim... Fofo.
- Vem cá agora! - disse se levanto logo depois dela, que arrumava a roupa e o cabelo.
- Quê? Não! - e começou a correr, ambos riam intensamente. Ele a pegou pela cintura e riram ainda mais.
- Quem é fofo agora?
- Tu, Pedro... - e riram mais ainda. Eles foram um do lado do outro, até a casa da menina. Apenas disseram adeus e acenaram um para o outro. Na verdade, não foi um adeus, foi um até logo. Sabiam que não deixariam de se ver mais nunca.
Capítulo 02
Ana Débora
AWWN, Ana! Tô amando ler esses contos. Além de você escrever super bem, cria uns personagens tão lindinhos e encantadores <3 E claro, os diálogos <3 haha Quero um livro, logo! haha
ResponderExcluirMas sério, adorei mesmo... e tô sem saber o que comentar.
Ai, no começo pensei que estava descrevendo o clima daqui da cidade haha Tá horrível D: Pena que aqui não tem praia e não tem um Pedro...
Beijos - http://otoemduvida.blogspot.com.br/