Florescer

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Eu gostaria que os meus humildes pés florescerem por onde tivessem passado e que o ar não causasse câncer só pelo humilde fato de respirarmos. Com a mente fixa a terra e os pensamentos fixo as nuvens, eu vou caminhando pelas ruas vazias como se não tivesse medo de perder o pouco que tenho. Os passos são lentos, a respiração contraditória e o vento que castiga, pois quase que não dá as caras.

   
A praça da bandeira sem bandeira está, e algumas das antigas e gigantescas árvores foram cortadas para o bem do progresso, que para outros, seria regressão. Eu costumo ser os outros na maioria das vezes. Eu sou a favor do amor, mas protejo o meu com todas as forças que tenho. Sou capaz de morrer para não ter o meu coração ferido. Acabo sorrindo sempre que percebo que também sou hipócrita, que também penso muito em algo em que nunca consigo transformar em ação. No quanto sou calorosa e no quanto isso foi friamente planejado e calculado.

   
Afinal de contas quem eu seria? Não sei, e já parei com essa coisa tola de querer me perseguir. A sociedade tudo padroniza, e como não encontrei padrão para mim, sequer o esquisita ou excluída, acabei percebendo que sou aquilo que ainda não foi aprisionada, rotulado, padronizado.

   
Sou aquele tipo de pessoa que se entoca em uma biblioteca ou em casa, que um dia é completamente social e no outro tem fobia de gente; por que eu surto, mudo, enlouqueço, escrevo, choro, me sinto só, me recomponho e crio outro recomeço. Por eu gosto de ser e sou várias coisas. Por que eu me permito, eu me sinto, eu me exploro. Por que eu me conheço do avesso, de cabeça par abaixo, surda/muda/cega. Até quando eu não sei quem sou eu sei o que está acontecendo. Eu sei todos os significados.

   
Pois pés tão machucados não podem florescer tão facilmente, quando os espinhos acabaram de sair significa que ainda dói, é impossível florescer em meio tantos pedregulhos e asfaltos. Mesmo que seja difícil de se obter o ar puro, espero florescer, antes que o câncer me alcance.

Ana Débora

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já que atualmente tudo nos mata